quarta-feira, 22 de março de 2017

Novo endereço

 Virando aquela velha esquina, manchou a nova roupa. A sujeira que já havia esquecido, retorna sujando de novo, o novo.
 Manchando o que se tem de bonito, colocando em prova a resiliência que não é tão íntima. O embrulho do presente não parecia estar recheado de estrume do passado.
 Mas como esquecer? Como limpar? Como não passar na mesma esquina?
 Ignorando os carros que passaram na sua rua, seguiu em frente e mudou de avenida, esperando que não haja buracos cheios de lama para manchar o vestido que acabou de trocar.
 Vai que o presente que recebeu no novo endereço só tenha futuro... Nunca se sabe o que acabou de encontrar.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Torre de Babel

  Atualmente, nessa era, nos dias de hoje, ou qualquer outra expressão clichê que se refira ao que estamos vivendo, não estamos fazendo jus ao nome "presente". Seja porque o passado ainda não foi resolvido, ou porque o futuro parece um lugar melhor para se viver, ignoramos a caixa que apareceu em nossa porta. Talvez porque o embrulho seja menos do que esperávamos no passado, quando o presente ainda era um futuro brilhante.
  Não sabemos falar dos nossos sentimentos, porque não sabemos nem sequer como sentí-los. Aprendemos que demonstrar qualquer coisa é sinal de fraqueza e construímos um forte com tijolos de orgulho, grudados um ao outro com tantas decepções que precisamos de mais tijolos, para reconstruirmos Babel, a torre da confusão. Não sabemos mais como falar a mesma língua.
  Um século onde é tão fácil mandar uma mensagem, deveria ser a chave para a aproximação das pessoas, mas ao invés disso nos tornamos cada vez mais apáticos ao que acontece com o próximo. O mundo não está preparado para ouvir o que sentimos, mas não faz diferença, porque nós já não sabemos mais sentir.
  O seu primeiro beijo não acontecerá novamente, aquele buquê de flores não vai se desmurchar e o passado não vai se desfazer porque você não gosta dele. Mas você pode beijar de novo, plantar um jardim e escrever um futuro vivendo o seu presente. Faça tijolos de resiliência, use suas decepções para construir algo mais bonito. Os arranha-céus hoje riem de Babel, faça o mesmo.
  Para terminar o texto com algo tão clichê quanto o começo: não é tarde para recomeçar.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Carona

 Como não poderia deixar de pronunciar-me sobre o ocorrido, quis escrever algo, até superficial, considerando a profundidade dessa história, mas quis certificar-me de que todos poderiam ler, porque cada ser humano de passagem neste planeta que chamamos de Terra merece saber o que Clarice fez em sua pequena participação no meu mundo.
 Estava chovendo e vi uma garota andando (isso mesmo, não estava correndo como todas as outras pessoas), pedi o motorista para parar o carro, abri a janela e a ofereci uma carona. Ela virou-se para mim e disse:
 - Só oferecemos algo quando consideramos estar em melhor condição do que a pessoa que acreditamos precisar de ajuda, então, inverteremos os papeis, você precisa de muito mais ajuda do que eu. Aceita uma carona?
 E sorriu.
 Não sei o porquê, mas resolvi descer do carro e caminhamos até a casa dela. Quando nos despedimos, encharcados, ela olhou para mim com uma cara de desaprovação e disse:
 - Você é um baita mal educado, te dei a melhor carona de sua vida e nem me agradeceu!
  Antes que eu pudesse a responder, soltou uma boa gaitada e entrou, fechando a porta.
 Não consegui entender o que ela quis dizer com a sua carona, mas não a tirei dos meus pensamentos por uma semana inteira. Resolvi bater em sua porta esperando que convidasse-me a entrar, mas quem entrou foi ela, na minha vida.
 Os próximos acontecimentos não serão aqui relatados, porque ainda escreverei um livro sobre isso, lhes prometo. Sua complexidade não caberia nas poucas linhas a mim destinadas por essa coluna. Mas quero deixar aqui, "só para constar nos registros por aí", que embora eu não seja um sujeito engraçado, ela via graça até em tragédias, então, estava sempre rindo de mim. Amava o sorriso dela. Por Deus, eu amei aquela mulher.
 Uma crônica de um péssimo colunista, perdidamente apaixonado por alguém que já se foi. Espero, e sei que você também, que o livro seja melhor.
 Ah, se vir alguém caminhando na chuva enquanto todos os outros estejam correndo, desça do carro e caminhe com ele, isso poderá mudar a sua vida para sempre.
 Não se esqueça de agradecer.

domingo, 17 de julho de 2016

1, 2, 3, testando

 Queria que soubesse que escrevo pensando em qual seria sua expressão ao ler. Desde Apresentação até aquela frasezinha da semana passada, tudo é por você.
 Embora meus textos sejam diferentes, todos convergem para o amor. O meu amor. Aquele que guardo pra você.
 Tem quem acredite ser besteira, mas sei lá... Vai que você lê.


Respeitável público

 A gente e essa boba mania de achar que é pura magia um abracadabra. Quem tira coelho de cartola quase sempre esconde embaixo da gola um desamor.
 Amou tanto que escorreu pelos cantos os encantos e, esquecendo de fechar a torneira dos excessos, não sobrou sentimento algum.
 O espetáculo acabou, o circo foi embora da cidade e a mágica enganou o rapaz. Pobre coitado! Pulou que nem trapezista e esborrachou com o coração no chão.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Sou poeta, sinto muito

 Poeta é um ser engraçado... Se apega, mas despreza. Sente tudo e nada. Às vezes, copia os sentimentos e os esconde entre suas linhas.
 Escreve, mas não sente. Sente, mas não escreve. Sempre um fingidor.
 Eu, poeta que sou, não poderia fazer diferente. Ouço, escrevo. Vejo, escrevo. Sinto, escondo.
 Sinto tudo. Ou finjo? Sinto muito se não sinto nada.


**Um esboço que organizei, mas nem precisava. Da querida Ariane Rosa, uma flor. A gente combina.

terça-feira, 14 de junho de 2016

Partitura do tempo

 O relógio continua a cantar o que eu e você não queremos mais ouvir. Os anos passaram, o amor se esvaiu, sonhos acabaram e a melodia sumiu.
 O tempo não é mais o mesmo. Os ponteiros de seu empregado giram sem parar, e nos tornando escravos, segue tirando cada nota de uma música falida que outrora foi de amor.
 Canta, passarinho, canta. Traz algum novo acorde para mim, porque no descompasso dos meus batimentos, eu já nem sei mais compor.