sexta-feira, 22 de julho de 2016

Carona

 Como não poderia deixar de pronunciar-me sobre o ocorrido, quis escrever algo, até superficial, considerando a profundidade dessa história, mas quis certificar-me de que todos poderiam ler, porque cada ser humano de passagem neste planeta que chamamos de Terra merece saber o que Clarice fez em sua pequena participação no meu mundo.
 Estava chovendo e vi uma garota andando (isso mesmo, não estava correndo como todas as outras pessoas), pedi o motorista para parar o carro, abri a janela e a ofereci uma carona. Ela virou-se para mim e disse:
 - Só oferecemos algo quando consideramos estar em melhor condição do que a pessoa que acreditamos precisar de ajuda, então, inverteremos os papeis, você precisa de muito mais ajuda do que eu. Aceita uma carona?
 E sorriu.
 Não sei o porquê, mas resolvi descer do carro e caminhamos até a casa dela. Quando nos despedimos, encharcados, ela olhou para mim com uma cara de desaprovação e disse:
 - Você é um baita mal educado, te dei a melhor carona de sua vida e nem me agradeceu!
  Antes que eu pudesse a responder, soltou uma boa gaitada e entrou, fechando a porta.
 Não consegui entender o que ela quis dizer com a sua carona, mas não a tirei dos meus pensamentos por uma semana inteira. Resolvi bater em sua porta esperando que convidasse-me a entrar, mas quem entrou foi ela, na minha vida.
 Os próximos acontecimentos não serão aqui relatados, porque ainda escreverei um livro sobre isso, lhes prometo. Sua complexidade não caberia nas poucas linhas a mim destinadas por essa coluna. Mas quero deixar aqui, "só para constar nos registros por aí", que embora eu não seja um sujeito engraçado, ela via graça até em tragédias, então, estava sempre rindo de mim. Amava o sorriso dela. Por Deus, eu amei aquela mulher.
 Uma crônica de um péssimo colunista, perdidamente apaixonado por alguém que já se foi. Espero, e sei que você também, que o livro seja melhor.
 Ah, se vir alguém caminhando na chuva enquanto todos os outros estejam correndo, desça do carro e caminhe com ele, isso poderá mudar a sua vida para sempre.
 Não se esqueça de agradecer.

domingo, 17 de julho de 2016

1, 2, 3, testando

 Queria que soubesse que escrevo pensando em qual seria sua expressão ao ler. Desde Apresentação até aquela frasezinha da semana passada, tudo é por você.
 Embora meus textos sejam diferentes, todos convergem para o amor. O meu amor. Aquele que guardo pra você.
 Tem quem acredite ser besteira, mas sei lá... Vai que você lê.


Respeitável público

 A gente e essa boba mania de achar que é pura magia um abracadabra. Quem tira coelho de cartola quase sempre esconde embaixo da gola um desamor.
 Amou tanto que escorreu pelos cantos os encantos e, esquecendo de fechar a torneira dos excessos, não sobrou sentimento algum.
 O espetáculo acabou, o circo foi embora da cidade e a mágica enganou o rapaz. Pobre coitado! Pulou que nem trapezista e esborrachou com o coração no chão.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Sou poeta, sinto muito

 Poeta é um ser engraçado... Se apega, mas despreza. Sente tudo e nada. Às vezes, copia os sentimentos e os esconde entre suas linhas.
 Escreve, mas não sente. Sente, mas não escreve. Sempre um fingidor.
 Eu, poeta que sou, não poderia fazer diferente. Ouço, escrevo. Vejo, escrevo. Sinto, escondo.
 Sinto tudo. Ou finjo? Sinto muito se não sinto nada.


**Um esboço que organizei, mas nem precisava. Da querida Ariane Rosa, uma flor. A gente combina.

terça-feira, 14 de junho de 2016

Partitura do tempo

 O relógio continua a cantar o que eu e você não queremos mais ouvir. Os anos passaram, o amor se esvaiu, sonhos acabaram e a melodia sumiu.
 O tempo não é mais o mesmo. Os ponteiros de seu empregado giram sem parar, e nos tornando escravos, segue tirando cada nota de uma música falida que outrora foi de amor.
 Canta, passarinho, canta. Traz algum novo acorde para mim, porque no descompasso dos meus batimentos, eu já nem sei mais compor.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Sem pontos finais

A soberania de um quark acoplada ao amor
Jamais resultaria em dor
O sentimento alfa e a partícula elementar
Viveriam em conjunto mesmo depois do fim chegar

Sem qualquer instrumento
Nem mesmo o fugaz tempo
Conseguir o impossível
Separar o indivisível

Então, viveriam o infinito
No que há de mais bonito
Que é a vida sem agror

A felicidade de quem ama
Dois corpos, o mesmo espaço, uma cama
E o fim sem mais vigor

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Transmutação

 Novos começos, com novas cores de novos cabelos. O ciclo recomeça. Não, o ciclo vira outro. Nada de recomeços antigos.
 Troque a roupa, mude o curso. Sim, o curso da vida. Não retoque a maquiagem, limpe e passe outra. Nade na água que transforma e tira a sede.
 Leia Clarice, ouça Chico, fale Rousseau. Pense. Pense. Pense. Ouça. Ouça. Fale.
 Seu futuro tá aí. Sério. Sorrindo para você. Sorria de volta. Vire uma fênix. Saia das cinzas. Voe para os novos começos.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Primeira pessoa do plural

 Suas mãos cheias do sangue causado pela demasiada força empregada em segurar a corda que o prendia a ela, seus pés cheios do cansaço de uma caminhada longa que não levou a lugar algum e seus olhos cheios de lágrimas que ela já nem entendia mais o motivo.
 Invejou as borboletas que voavam de jardim em jardim procurando a beleza, sem se aterem a rosas que não exalam mais perfumes.
 Entendeu o porquê de suas lágrimas, descansou, soltou a corda e encontrou um riacho onde lavou suas feridas e permitiu-se ser guiada pela correnteza.
 Conheceu várias outras borboletas, passeou por centenas de outros jardins e saiu de perto de quem só exalava o(dor). A vida é curta demais para viver atada em nós.