quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Alto mar

 Usou o mesmo sapato que tinha causado o calo anteriormente. Ouviu uma vez que uma dor tira a outra. Quis que sangrasse o suficiente para banir o principal tormento.
 Seu sangue jorrou e foi de encontro a água salgada. Mas foi estúpido, nem sentia a bolha que estourou, só sentia algo mais pulsante sendo estilhaçado.
 Em meio as ondas e longe de qualquer terra firme ou porto seguro, olhando para os lados sem saber o que fazer ou para onde ir, afogou-se.

domingo, 6 de dezembro de 2015

Pássaros, canções e Camões

 Eu consigo sentir queimar o fogo, estou sentindo essa ferida e está doendo demais em mim. As controvérsias de Camões estão se assentindo. E por quê? Se as gaiolas estão te prendendo demais, então abra a porta e voe. A chave está debaixo do tapete.
 Os batimentos estão descompassados, não andamos mais na velha sintonia e a sinfonia recusa-se a ser tocada por nós dois. É uma pena. Meu corpo toca, canta e dança perfeitamente no seu acorde. Ou não, pelo menos, não mais.
 Então, deixe, conseguiremos outra música. Não vire a folha da partitura, troque por outra, eu também assim farei. Se novas canções não fossem compostas, que chata seria a nossa vida de pássaros.

domingo, 29 de novembro de 2015

Sol maior

 Você bateu na porta, mas ao invés de lhe fazer o convite que esperava, saí e começamos a conversar. Então, solta aquele sorriso sem jeito com os dentes imperfeitos pela sua negligência, mas que continua sendo o mais lindo que já vi. Abro a porta devagarinho e você entra de mansinho para não me assustar.
 Chegou e estava tudo na mais perfeita desordem, aquela que eu sempre mantive para nunca ter motivos para receber visitas. Aos poucos, você foi varrendo a sujeira para longe do tapete, mudou alguns móveis de lugar, jogou fora todo o lixo de estimação e até mudou a decoração. Tudo que eu sempre quis e nunca quis ao mesmo tempo.
 Promete que vai ficar para sempre? Eu adoro a sua interferência, adoro o seu sorriso torto, até o que odeio em você me faz te amar mais. Pode continuar mudando os móveis de lugar; se quiser, pode tirar o tapete, para não correr risco da sujeira ir parar lá de novo; a gente lava a roupa suja todo dia e veste ela limpinha depois. Só não abra as portas de novo, por favor. O som do meu coração é muito melhor no seu acorde.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Metamorfose

 Estreando vontades novas, foi incompreendida. Como explicar o que nunca existiu dentro dela se o que fez prova o contrário? Ele disse: "contra fatos não há argumentos".
 A tatuagem não quer sair, ela clama por socorro, mas ninguém a pode ouvir e o bombril corta, a ferida sangra, a cicatriz fica enorme e encobre o que é verdade.
 Entre os soluços de um choro e o sorriso falso digitado, sem argumentos contra os fatos, a nova parte vira o corpo e a alma explode em dor.

domingo, 20 de setembro de 2015

Onde mora a solidão

 Naquela noite, desliguei o celular e deitei-me. Mas não em minha cama, pairei no ar, inerte, sem um substrato para fixar-me. As borboletas caíram no chão do meu estômago e pus-me a chorar.
 Fiquei repetindo entre soluços: eu só queria ter nos braços de outro alguém, a fortaleza que em mim não pude encontrar.
 Onde está aquele amor infinito? Cadê você que me deixou no meio do caminho?
 Estou juntando as pedras do castelo que sonhei contigo... Construirei uma casinha pequenina, já é o suficiente para mim e a minha solidão.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Postulado

O que perdido foi no tempo
Outro vento não traz mais
A vida não cabe no êmbolo
Sua física não me apraz

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Sedento

Ouça o que a minha alma grita
Atenda o que o meu corpo pede
Sacie minha sede pela vida
Corra como a corsa atrás do que se deve

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Propagação mútua

 Olhando daqui, parece que o amor chamou-me para dançar. Posso pedir-lhe um favor? Verifique se a luz que está aqui passou por aí e também te fez enxergar.
 Ouvindo o som da canção, um acorde tocou meu pulmão, nesse momento encontro-me sem ar. Mais um favor pode fazer-me? Verifique se a onda que está aqui chegou na mesma frequência aí e também te fez sufocar.
 Dançando esse ritmo, pousou em mim um sentimento florido, que fez-me o anelar. O último favor, lhe prometo, acha que consegue fazer? Verifique se o amor que está aqui acabou finalizando seu vôo aí e também te fez suspirar.

terça-feira, 21 de abril de 2015

Absolutismo corrompido

 Felicidade estampada em rostos tristes. Risos frouxos apertados por conselhos. Torneiras molhando vidas secas. Tudo em seu devido lugar.
 Mas quem ordenou o lugar? Quem escolheu as palavras que representam os sentimentos? Quem disse que ouvir é melhor do que ver ou sentir?
 Estou fora do ar. Escolhi acreditar que não preciso acreditar. Suas verdades absolutas não me convencem.
 Quando sentir vontade de chorar, chorarei; quando quiser rir frouxamente, passarei batom vermelho e ninguém coloca uma gota de água na minha sequidão!

terça-feira, 7 de abril de 2015

Pernoite

 Como disse o rei da sabedoria, "é mais fácil aquecer-se com uma pessoa ao lado".
 O que está esperando? Vem aqui. Vem aquecer esse coração impedrado, que há tempos não sente o sol. Deixe-me deitar em teu peito, após uma noite inteira e intensa, de amor. Sussurre em meu ouvido um poema. Mas na manhã seguinte se vá, antes que eu acorde.
 Deixe meu coração voltar ao seu habitat natural... Os mares frios e agitados, não pertencentes a nenhum navegador.
 Há amores de apenas uma noite. Nem por isso deixam de ser belos. Na verdade, é nisso que está o seu esplendor.

terça-feira, 31 de março de 2015

Saudalidades

 Ela achava sem graça, e até sem sentido, os clichês sobre saudade que ouvia. Sempre acreditou que alguém querido o suficiente para fazer falta quando partisse, se merecedor do sentimento, escolheria ficar.  E se não fosse, era melhor que encontrasse outro rumo mesmo.
 Isso até conhecer Pedro... Um daqueles que não encontram motivos o suficiente para ficar.
 Pobre Ana, ela entendeu que quando se ama, os clichês passam a fazer sentido, e o mais desejado e querido sentimento, é o recíproco.

terça-feira, 24 de março de 2015

Funções cardíacas

 Quando meu coração finalmente decidiu realizar somente a função designada a ele - bombear sangue - eu me senti vazia. Isso aí. Alcancei o que tanto procurei, o que li em textos inspiradores de amor próprio e superação, o que passei noites em claro sonhando, o que pedi a estrelas cadentes e velas de aniversário para que acontecesse, aconteceu. E não gostei nada disso.
 Sabe quando você encontra um livro ótimo, o lê o mais rápido possível para descobrir o final, e acaba sendo uma droga? Me senti assim. Foi como se o que eu passei a vida inteira lutando para que fosse embora, fosse o real motivo da minha existência, sendo assim, todo o meu esforço foi uma total perda de tempo (no caso do livro, também).
 Deve ser isso mesmo. Nasci para amar. Por isso acho tão difícil torcer pro vilão da novela se dar mal, mesmo odiando as suas terríveis práticas, por isso adoro os clichês dos filmes de romance e dos livros do Nicholas Sparks, por isso sonho em beijar na chuva, dançar na rua, ouvir alguém sussurrar Camões e até alguns versos das canções do Cazuza.
 Querido amor, por favor, volte. Para o meu coração, parar é melhor que essa "medíocre" função.

segunda-feira, 16 de março de 2015

Nove

 Justo para ela que recusava embriagar-se de amor, aquela sensação de estar pulando em um abismo tão fundo que não é possível ver nem ao menos um pequeno flash de luz, pareceu o mais sóbrio a se fazer.
 Controverso, né?! Mas o amor tem dessas coisas. Se pode ser ferida que dói e não se sente, por que não podemos encontrar a sobriedade ao nos embebedar?
 Sobre a garota... Continua a cair e cair, torcendo sempre para não ter um chão a sua espera.
 Contudo, todo abismo sempre tem um fundo. E quanto de mais alto se pula, maior é o impacto na queda.
 O amor, mesmo com suas lindas controvérsias, ainda precisa ser encaixado, peça por peça. Não dá para construir um edifício, sem antes amontoar tijolos.
 A garota aprendeu com o tombo que, as feridas mais doloridas vêm após quedas que escolheu-se cair.

terça-feira, 10 de março de 2015

Cicatrizes de um corpo esguio

 Tenho tantas cicatrizes. Confesso, achei que algumas não chegariam a tal ponto. Tive medo de que pequenas feridas se unissem e ficassem maiores que eu, que me sugassem como em um buraco negro e me fizessem uma delas.
 Não quero ser assim, nunca quis. Tenho pavor de gente que faz da sua vida uma ferida incapaz de se curar.
 Particularmente, acho uma graça minhas cicatrizes. As pergunto sempre o porquê de estarem aqui e respondem tão sorridentes que chega a gerar gargalhadas.
 Gosto da forma como perdoam quem as causaram, justamente porque as causauram. Dizem a mim que o seu criador fez-me crescer. Aumentou uma parte em meu corpo esguio (no caso, elas) e, sempre que precisar lembrar-me o porquê de ser tão forte estarão aqui, contando as coisas que chorei para que, finalmente, eu possa sorrir. Só rir.

terça-feira, 3 de março de 2015

Mudanças aéreas

 Ela, uma garota que trancafiou suas ideias, preferiu acolher as certezas mesmo que as odiasse. Ele, um rapaz sonhador que amava o que fazia e fazia porque amava. Um garoto cheio de sonhos que não se importava em lutar por eles, muito pelo contrário... Era isso o que mais gostava de fazer.
 Por um acaso não tão habitual do destino se conheceram. Ele bagunçou as certezas dela e a fez pensar em voar, tanto literal, como fantasiosamente.
 Passaram todos os dias mudando as vidas um do outro. Ajustavam o ângulo que julgavam melhor e iam voar por aí. Sem rumo, sem onde pousar. Só por voar.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Duzentos homens

 Destes mais de duzentos homens, a ti, eu escolhi observar. O teu sorriso encantou a minha alma. Ele convidou-a para dançar, a música mais linda que já se pôde ouvir.
 Minh'alma, já cansada de estar sempre sentada, naquele banco, ali no canto, levantou-se e aceitou ao convite. Dançou, dançou e dançou. O seu sorriso bonito, romântico e sincero, recitou uma tão bela poesia, daquelas dignas de terem saído da tinta da caneta de Camões.
 Então, o meu sorriso meio torto, por convir, se endireitou e brilhou a ponto de resplandecer todo o salão.
 Destes mais de duzentos homens, a ti, eu escolhi amar.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Apresentação

 Olá, pessoal!
 Antes de começar com os textos (que são o porquê de eu estar aqui), gostaria de lhes explicar de onde veio a ideia da criação do blog.
 Sempre gostei muito de ler. Encontro nas palavras escritas aquilo que nunca encontrarei nas verbalizadas. Acredito que porque pensamos mais enquanto escrevemos, aparecendo então o sentimento. Não que sentimentos não apareçam em palavras verbalizadas, muito pelo contrário, aparecem aos montes. Mas nas escritas, eles vêm polidos, com mais certeza do que são.
 A minha vontade de escrever nasceu desses tais sentimentos polidos que encontrei em textos de um amigo. E foi crescendo e crescendo, até chegar aqui. Tive o incentivo de algumas pessoas para a criação do blog e depois de pensar bastante resolvi o criar.
 Sintam-se à vontade para criticarem, afinal, estou aqui para tentar aperfeiçoar-me. Já vou logo avisando que os textos são bem clichês, e não muito bons, mas espero crescer.
 Obrigada pela atenção, e desejo que ao lerem os textos que se seguirão, algum tipo de emoção lhes aflija!